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"Amar é um deserto e seus temores": O amor como travessia

  • Foto do escritor: Wallyson Pereira dos Reis
    Wallyson Pereira dos Reis
  • 17 de mar.
  • 2 min de leitura



Autor: Psicanalista Wallyson Reis


Amar é caminhar sobre um solo instável, onde cada passo pode revelar uma nova paisagem ou um desafio intransponível. Como Djavan canta em "Oceano", o amor carrega suas correntezas, mas também seus vazios, e em "Amar é um deserto e seus temores", ele nos lembra que o amor é também um vasto território desconhecido, onde a incerteza é companhia constante.

Na psicanálise, a relação com o outro sempre passa pelo que Freud chamou de "a impossibilidade de conhecer completamente o outro". Nunca podemos percorrer cada duna do deserto que é o outro, nem conhecer a totalidade do seu solo. Como diria Winnicott, o amor exige espaço para que cada um preserve seu mundo interno, sua fauna e flora próprias, sem que um precise devastar o outro para sentir-se seguro.

A tentativa de abarcar o outro por completo é uma ilusão que pode nos custar a vida, no sentido emocional e psíquico. O amor, quando se torna um desejo de captura e controle, transforma-se em angústia. Há quem sofra por não poder conhecer completamente o outro, por perceber que há sempre zonas de sombra, mistérios que nos escapam.

O deserto do amor tem suas noites frias e seus dias escaldantes. Há momentos de plenitude, mas também o risco de abandono e solidão. O perigo pode estar naquilo que não vemos: a picada de um animal peçonhento pode ser comparada a uma palavra dita sem intenção de ferir, mas que encontra no outro uma ferida aberta. Assim como no deserto cada espécie desenvolveu suas estratégias de sobrevivência, cada um de nós tem defesas emocionais moldadas pelas experiências que vivemos. Nossas palavras e ações podem esbarrar nessas resistências e desencadear reações inesperadas.

Bell Hooks nos lembra que o amor exige coragem, pois implica abrir-se para um encontro que não se pode prever completamente. A relação entre dois sujeitos não é um mapa bem definido, mas sim uma travessia por dunas móveis, onde a paisagem se transforma a cada dia. Talvez o amor seja menos sobre conquistar territórios e mais sobre aprender a caminhar lado a lado, respeitando os mistérios que cada um carrega dentro de si.

E você, tem conseguido atravessar o seu deserto ou está preso tentando decifrá-lo completamente? Até que ponto a necessidade de controle tem te impedido de viver o amor?



Bibliografia

  • Freud, S. (1920). "Além do princípio do prazer". Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.

  • Winnicott, D. W. (1971). "O Brincar e a Realidade". Rio de Janeiro: Imago.

  • Hooks, B. (2000). "All About Love: New Visions". William Morrow.

  • Djavan. (1989). "Oceano". Álbum "Djavan".


 
 
 

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“Adoecemos quando perdemos a continuidade da existência.” - Winnicot

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