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O Amor como Espaço de Encontro e Desencontro

  • Foto do escritor: Wallyson Pereira dos Reis
    Wallyson Pereira dos Reis
  • 24 de fev.
  • 3 min de leitura

Autor: Wallyson Reis



O amor, assim como o cuidado, pode ser visto como um espaço onde duas pessoas se encontram na sua vulnerabilidade, não necessariamente buscando a perfeição. Donald Winnicott descreve essa dinâmica por meio do conceito de "espaço potencial", que é aquele lugar no qual a confiança e a segurança emocional permitem que sejamos autênticos. Ele explica: "É no brincar e apenas no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e usar sua personalidade integral" (Winnicott, O Brincar e a Realidade, 1971). Na relação amorosa, isso implica que o amor é um espaço onde o outro pode ser genuíno, sem a pressão de ser perfeito.

Ana Suy complementa essa visão com uma abordagem poética. Em Amor, Por Favor, Amor, ela afirma que o amor "é o desencontro que nos dá a medida da intimidade" (Suy, 2016). Para ela, o amor não se trata de fusão ou completude, mas de aceitar o espaço entre o eu e o outro, um lugar onde o outro não existe para preencher lacunas, mas para caminhar lado a lado, permitindo que as falhas e os vazios existam.


Amar é Suportar a Ausência


Winnicott e Freud compartilham uma compreensão sobre o papel da ausência no desenvolvimento emocional. Freud, em Além do Princípio do Prazer (1920), argumenta que a experiência da separação e da falta é fundamental para o amadurecimento psíquico, pois permite que o sujeito desenvolva a capacidade de suportar a ausência do objeto amado. O famoso exemplo do "fort-da" do neto de Freud, que brinca com a ideia de presença e ausência da mãe, ilustra essa necessidade de lidar com o vazio.

Winnicott também aborda essa questão ao explicar a importância de a mãe estar "suficientemente presente" para que a criança possa suportar sua ausência. Da mesma forma, no amor, é a capacidade de suportar os momentos de separação que define a profundidade do vínculo. Ana Suy, alinhada com essa perspectiva, destaca que "o amor é a arte de suportar o outro" (Suy, 2016), referindo-se à capacidade de acolher as imperfeições e os momentos de distanciamento, sem sucumbir à fantasia de um amor idealizado.


O Amor como Espaço de Criação


Freud introduz a ideia de que o amor está ligado à pulsão de vida, ou Eros, que se opõe à pulsão de morte, Thanatos. Para ele, o amor é um dos principais motores da criatividade e da construção da civilização (O Mal-Estar na Civilização, 1930). Essa pulsão de vida impulsiona o indivíduo a criar laços e construir algo novo.

Winnicott desenvolve essa ideia ao sugerir que o amor pode ser visto como um espaço de criação e de crescimento mútuo. No amor, ao acolher a diferença do outro, estamos permitindo que o outro e nós mesmos sejamos criados a cada dia. Winnicott escreve: "Não há coisa alguma que aconteça a menos que haja uma mãe" (Winnicott, A Criança e o Seu Mundo, 1965), destacando que é na relação amorosa que há espaço para o desenvolvimento do ser.

Ana Suy reforça essa perspectiva ao afirmar que o amor "é um lugar onde cabem duas pessoas" (Suy, 2016), no sentido de que amar não é sobre anular o outro, mas sobre criar juntos um espaço onde ambos possam ser mais do que eram antes de se encontrar.


Conclusão


Amar é um ato que envolve acolher as imperfeições e a distância, ao mesmo tempo em que cria um espaço onde as pessoas podem ser autênticas e se desenvolver juntas. O amor verdadeiro não exige completude ou perfeição, mas sim a capacidade de aceitar o desencontro e a ausência sem perder a conexão. Ele é uma experiência de generosidade, onde o outro não é um complemento, mas um parceiro na criação de algo novo. Nesse espaço, crescemos, enfrentamos nossos medos e nos tornamos mais inteiros. O amor, então, é uma dança entre a presença e a ausência, o encontro e o desencontro, em que ambos os lados se fortalecem e se transformam mutuamente.



Referências:

  • Freud, S. (1920). Além do Princípio do Prazer. Rio de Janeiro: Imago.

  • Freud, S. (1930). O Mal-Estar na Civilização. Rio de Janeiro: Imago.

  • Suy, A. (2016). Amor, Por Favor, Amor. Rio de Janeiro: Todavia.

  • Winnicott, D. W. (1965). A Criança e o Seu Mundo. Rio de Janeiro: Imago.

  • Winnicott, D. W. (1971). O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago.

 
 
 

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“Adoecemos quando perdemos a continuidade da existência.” - Winnicot

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