Por Que Repetimos os Mesmos Padrões?
- Wallyson Pereira dos Reis
- 24 de fev.
- 2 min de leitura
Autor: Wallyson Reis

Quantas vezes nos pegamos repetindo os mesmos padrões de comportamento e relacionamento, mesmo quando sabemos que esses padrões nos prejudicam? Por que continuamos a nos envolver com pessoas e situações que já nos causaram dor? Estas questões nos levam a explorar a profunda relação entre a repetição inconsciente e o nosso desenvolvimento emocional.
Na psicanálise, a repetição de padrões é um fenômeno bem documentado, e tanto Freud quanto Winnicott oferecem insights valiosos sobre esse processo. Freud introduziu o conceito de compulsão à repetição, afirmando que "o que não conseguimos recordar, estamos condenados a repetir" (Freud, Além do Princípio do Prazer). Segundo Freud, essas repetições são uma forma inconsciente de reviver experiências passadas que ainda não foram totalmente elaboradas ou compreendidas. Em outras palavras, os padrões repetitivos não são meros erros, mas sim tentativas de resolver traumas antigos que permanecem não resolvidos em nosso inconsciente.
Donald Winnicott, por sua vez, acrescenta uma dimensão crucial a essa compreensão. Ele argumenta que essas repetições estão frequentemente enraizadas em nossa infância e nas primeiras relações que tivemos. Winnicott desenvolveu o conceito de ambiente suficientemente bom, que se refere ao suporte e cuidado que recebemos durante os primeiros anos de vida. Quando esse ambiente é falho, cria-se uma base emocional instável que pode levar a padrões repetitivos em busca de uma sensação de segurança e reparo. Em suas palavras, "é uma alegria ser oculto, mas um desastre não ser encontrado" (Winnicott, O Brincar e a Realidade). Aqui, Winnicott sugere que o processo de repetição é uma tentativa inconsciente de ser "encontrado" e compreendido, de alcançar o cuidado que faltou em nosso desenvolvimento inicial.
Adicionando a essas perspectivas, Suely Rolnik, uma pensadora importante na psicanálise contemporânea, oferece uma visão crítica sobre a repetição no contexto da cultura e da política. Rolnik explora como as estruturas sociais e culturais também contribuem para a perpetuação de padrões emocionais e comportamentais. Ela argumenta que as pessoas muitas vezes repetem padrões devido a pressões sociais e normativas que moldam a nossa forma de pensar e sentir. Em seu trabalho, Rolnik destaca a importância de reconhecer e questionar essas influências externas para promover uma transformação pessoal mais profunda (Rolnik, A Clínica Psicanalítica e a Crítica Social).
Então, ao invés de se culpar por "errar de novo" ou sentir-se frustrado com a repetição de padrões, considere esses comportamentos como pistas para o entendimento e a cura. O processo terapêutico oferece um espaço seguro para explorar essas repetições, reconhecer o que elas estão tentando nos mostrar e, finalmente, criar novos caminhos para se relacionar consigo mesmo e com os outros.
Em suma, a compreensão da repetição de padrões, vista através das lentes de Freud, Winnicott e Rolnik, revela que esses comportamentos são mais do que meros erros; são manifestações profundas de nossas experiências passadas e contextos culturais. O processo de exploração e reflexão, possibilitado pela terapia, é crucial para a transformação e para a construção de uma vida emocional mais rica e consciente.
Referências:
Freud, S. (1920). Além do Princípio do Prazer. Edições 70.
Winnicott, D. W. (1971). O Brincar e a Realidade. Edições 70.
Rolnik, S. (2016). A Clínica Psicanalítica e a Crítica Social. Editora Fiocruz.
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